19 abril 2008

Eu e o eyeliner

Isso é mais ou menos a figura que um gajo faz a tentar perceber para que serve um Eyeliner. Com uma diferença, além de mais perigoso, não tem nada de sensual

Recupero um comentário de r. num post feito mais abaixo. Não é verdade que eu não saiba o que é um Eyeliner, e aliás desconfio que a maioria dos specimens de sexo masculino, saberá o que é o dito, não com o conhecimento da acção de uma biela ou de uma cambota mas algo que se lhe assemelhe. Eu mesmo tenho uma curiosidade mórbida sobre eyeliners dado que um dos meus principais passatempos nas filas de trânsito é aguardar o momento em que alguém que insiste em contornar as fronteiras de um olho com um pincel que está montado numa haste de plástico ou de um lápis com aspecto perigoso seja embatido por detrás (o que dá uma carga sensual ao que é já por si deveras mórbido) e olhe para mim com cara de aflição e me pergunte "Como raio é que isto foi acontecer?" enquanto me mostra um olho vazado mas com um fino contorno...

Será verdade que isto possa acontecer, é aliás muito mais certo do que eu mesmo arder imolado em chamas de Gasolina Geforce 95 por ter acendido um cigarrito enquanto atesto o depósito.

Recorda-me esta conversa uma obsessão que eu tive enquanto criança, a de ver o talhante lá do bairro ser insultado pela minha mãe por causa de descuidos deste calibre. Sei que era pequeno, daquele tipo de pequenês que não me deixava ultrapassar a prateleira de baixo do vidro do expositor frigorificado. Ali estava eu, ao nível das iscas e dos frangos esventrados de pernas abertas através dos quais eu espreitava à procura de ovos no interior das frangas, enquanto abria a boca e fazia embaciar o vidro frio no qual jogava ao galo comigo mesmo enquanto a Dona Fernanda dava instruções e enviava ameaças veladas de retaliação por causa da dureza da carne das semanas anteriores. O talhante, cujo nome não retive, tinha por hábito fumar tabaco de onça, cuidadosamente enrolado em cigarros finos que hoje nada ficariam a dever aos actuais Slims (Slim, como diz C. não é mais do que a versão modernaça do "tabaco de puta" que eu hoje fumo...). Tinha a particularidade de o enrolar, de o acender, e de o fumar de cabo a rabo sem o retirar do canto da boca, sem que o canudinho de cinza branca se desfizesse ou caísse. A minha mãe passou anos sem saber porque é que eu gostava tanto de costeletas, nunca lhes nutri nenhum amor assaz particular, mas era no momento do seu corte que o talhante tinha de fazer mais força, aplicar golpes mais violentos para separar os ossos e aquele momento em que eu achava que era o dia em que eu ia ver a cinza esboroar-se em cima das peças de carne. Lamentavelmente para o pequeno voyeur e felizmente para as minhas costeletas, tal nunca aconteceu, mas ficou sempre a expectativa e a esperança.

11 comentários:

Patricia Lousinha disse...

"Eu mesmo tenho uma curiosidade mórbida".
Lá diz o ditado que a curiosidade, mata! ;)

r. disse...

Cala-te lá.... quando era miúda tinha pesadelos com o velho do talho. Inventava todo o tipo de doenças sempre que desconfiasse que era "dia de talho".

Anónimo disse...

Eu era o homem do saco! ;)

Pedro Aniceto disse...

Roto?

m.camilo disse...

Quando passava com o meu velhote em frente ao bombeiro que montava guarda no quartel do B.S.B., a caminho das Antas, sistematicamente (ou pelo menos de 15 em 15 dias) alertava-me para o facto de fazer accionar o machado que o bombeiro ostentava para me cortar a pilinha (naquele tempo) se não me portasse bem na escola ou não comesse a sopa ou o caraças.
Ganhei um medo ao bombeiro à sua postura e ao machado que, de cada vez que passava pelo quartel sozinho, atravessava a rua... :S

Ou seja: Ameaças que não cairam em saco roto...

Pedro Aniceto disse...

Não há machado que corte...

r. disse...

Não digam nada a ninguém... mas eu tinha um pavor de morte da cuca do sítio do picapau amarelo. É favor conter qualquer vestígio de riso....

Pedro Aniceto disse...

Eu não me consigo rir porque nem sei quem é a Cuca...

Pedro Aniceto disse...

Segundo o Wikipedia: "A cuca é um dos principais seres mitológicos do folclore brasileiro. Diz a lenda que era uma velha feia na forma de jacaré que rouba as crianças desobedientes. O personagem se tornou ainda mais conhecido nos livros infantis de Monteiro Lobato e nas suas várias adaptações para a televisão, como o Sítio do Picapau Amarelo. A origem desta lenda está num dragão, a coca das lendas portuguesas, tradição que foi levada para o Brasil na época da colonização"

Ana Ferreira disse...

Oh r, não consegui deixar de esboçar um sorriso, eu sei quem é a Cuca :) , lembro-me da série

r. disse...

pois... :X
;)