José Tomás de Sousa Martins foi um médico natural de Alhandra (1843-1897) que se tornou famoso em Lisboa pelo seu trabalho caritativo com os pobres da capital. Formado em Farmácia e Medicina trabalhou intensa e na maioria dos casos gratuitamente na área da Freguesia da Pena sobretudo no combate à tuberculose, cujo bacilo haveria de o contaminar e impulsionar Sousa Martins ao suicídio. Por subscrição pública foi-lhe erigida em Lisboa, no Campo dos Mártires da Pátria frente à Faculdade de Medicina, uma estátua em 1904, peça essa que se tornou num local de culto popular à memória do estimado médico. Este culto, que chega a confundir-se muitas vezes com o religioso, traduziu-se na prática na deposição popular de milhares de lápides de agradecimento por intercessão na cura ou graça concedida. É um local que não me lembro de ver cuidado por instituições públicas mas onde reina uma ordem caótica que sempre me impressionou. Velas, flores, placas tudo ali tem estabelecido o seu ritual desordenado. Estou convicto de que há ali oferendas de pelo menos dois séculos. Hoje, já noite escura, escutei um agradecimento de alguém que positivamente ralhava com Sousa Martins. Ali estava ela, de negro vestida, de joelhos na calçada molhada chamando a atenção ao médico pelo facto de ainda não ter olhado pelo seu problema. A singeleza das milhares de placas aos pés da estátua é absolutamente comovente e impede-me de brincar com os inúmeros erros dos artistas que esculpiram os textos. Apesar de Sousa Martins nunca ter sido reconhecido pela Igreja no rol dos santos e beatos, deve este último estar muito melhor cotado no coração dos crentes do que muito santo quase desconhecido.
19 abril 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Nunca foi reconhecido pela igreja nem será, precisamente pela palavrinha que colocaste no teu post: suicídio.
É o que é.
Não tinha ligado os factos... Está explicado.
Enviar um comentário