29 agosto 2008

A confusão do pêssego

Sempre gostei de pêssegos. De quase todos. Grande parte da minha meninice foi passada a explorar pessegueiros, fosse pela resina com a qual haveria de produzir infindáveis frascos de cola (que não me recordo de alguma vez ter utilizado...), fosse a comer os ditos pêssegos, na sua maioria quentes da exposição ao sol (coisa que irritava superiormente o meu avô), fosse a colhê-los ainda demasiado imaturos (que por sinal era quando se roíam melhor...). Nunca aprendi a dividir os pêssegos por categoria, salvo a básica divisão dos que já tinha comido ou dos que haveria ainda de comer... Há dias fui à procura de um pessegueiro amigo que em tempos me forneceu vastíssimas quantidades do apetecido fruto mas, sinal dos tempos, já lá não estava (e consta na voz de quem sabe que há mais de vinte anos que a árvore já lá não está...). Fiquei triste, era hora de sol alto e há hábitos que custam a perder. Eram pêssegos grandes, aveludados, ficavam com uma metade vermelha acinzentada e a cada dentada produziam um sumo que haveria de me arruinar enormes quantidades de roupa, nada que uma passagem pelo tanque não resolvesse. Eram de uma daquelas espécies que quando comidas não ficam com rigorosamente nenhum vestígio de fruta no caroço. Como disse, desconheço-lhes a classificação, na verdade até conheço algumas só que não sei fazer coincidir os termos com os frutos. Havia-os "de roer", os "Mira-olho", os "amarelos" e alguns outros nomes mais que nem me atrevo reproduzir sob pena de ser envergonhado por algum leitor mais conhecedor destas lides. Há dias fui à procura de um pessegueiro e não estava lá, passei pelo tanque que estava seco e já não produz girinos em quantidade que daria para montar uma indústria de perninhas de rã. Tenho dado por mim ultimamente a proteger, cuidar e relembrar-me de algumas das árvores da minha infância, sinal óbvio de que estou lentamente a regressar às raízes. Ontem na borda de uma estrada vi um caixote de pêssegos e fui lá comprar alguns. E eram bem bons. Dos tais.

7 comentários:

cristina amil disse...

Pêssegos? Olha que pontaria...

Anónimo disse...

Adoro pêssegos, especialmente os "solta-caroços", mas inacreditavelmente, nunca vi um pessegueiro. A maior parte deles, os melhores, estão no Sul do Brasil, e são uma delícia, mesmo!
Eu fico com saudades, mesmo, são das jabuticabeiras... isso, eu morro de saudades, mesmo...

Ricardo Antunes disse...

Qual era o pessegueiro que procuravas?

Pedro Aniceto disse...

Era um pessegueiro de médio porte que estava na ponta do tabuleiro dos tomateiros e dos pepinos. Ao lado do tanque da fonte.

Ricardo Antunes disse...

Já sei. Não fazia ideia que tinha desaparecido... mas também já não passo lá há algum tempo.

"Eram de uma daquelas espécies que quando comidas não ficam com rigorosamente nenhum vestígio de fruta no caroço. Como disse, desconheço-lhes a classificação"

Esses, salvo erro, eram conhecidos como "pêssegos de abrir", já que se separavam facilmente do respectivo caroço.

E olha que também me lembro das recolhas de cola ;) (e como no teu caso, não tenho ideia de alguma vez a ter usado, fosse para o que fosse...)

Rui Valente disse...

Para quem gosta de pessegueiros, permito-me sugerir "Eu se não subo ao pessegueiro morro", um dos 30 contos de Abel Neves no livro "Além as Estrelas são a Nossa Casa" (Ed. Cotovia)

STARTMED disse...

Pensei que estavas a referir-te a um pessegueiro que estava lá em baixo ao pé da vinha do ganiço. Nunca mais comi pêssegos tão bons... Esse também já lá vai.
Até me está a crescer água na boca.

Vou ali comer um do Pingo Doce.
Yes'queres!!! ;)