21 janeiro 2010

E desbloqueai-nos do mal...

Quando o meu telefone tocou uma destas manhãs, atendi. Do lado de lá, um número não identificado e uma voz que desconheço (sou bom, muito bom, a recordar vozes de pessoas que me ligam quando o rei faz anos e cujo número a minha agenda não possui). "Senhor Aniceto, encontrei o seu iPhone...". Fiz ali uma pequena pausa cerebral, afastei o meu iPhone da orelha e mirei-o bem. Nunca perdi um telefone (o que é extraordinário porque nunca sei onde ponho as coisas) e voltei à conversa para tentar localizar-me e perceber que diabo de história estava eu a ouvir. "Ah sim, encontrou-o?" perguntei eu ainda a tentar acordar e assentar ideias.

Há ali um momento em que se faz alguma luz, saberá muito boa gente que sou o moderador de uma enorme lista de utilizadores de material Apple e que difundo com (muita) regularidade alguns apelos de roubos e perdas de material. O meu número consta de todos esses alertas e é possível que esteja aqui a razão desse contacto. É possível que uma vez que tenho na mão o meu próprio telefone, a pessoa que me ligou tenha encontrado um dos dois iPhone anunciados como "desaparecidos" e que andam neste momento em "terra de alguém". Mantenho o diálogo. Peço um encontro, encontro que não é à primeira tentativa fácil de conseguir. Estou relativamente distante da pessoa que me telefona, chego a desconfiar de algum tipo de armadilha (já vi relatos e vivi situações muito curiosas, algumas que nem gosto de recordar). Vamos conversando, burilando as nossas diferenças e tento encontrar um momento no dia comum em que estejamos geograficamente mais próximos. Aos poucos, vamos ambos conseguindo aproximar as agendas sem que eu dê mostras, nem de menor ansiedade que levante suspeitas nem de maior stress que afaste em definitivo quem me está a ligar.

Estou quase certo de que vou recuperar um dos iPhone em falta. Estou tão certo disso que telefono às duas pessoas que perderam os seus "meninos" perguntando a cada uma delas se desejam recompensar o gesto generoso. Só consigo falar com uma delas, levamos até algum tempo a definir o que é que deve ser o montante justo para uma recuperação... Parto para este encontro depois de tomar algumas precauções e é com satisfação que afasto todas as dúvidas de que não há nada a temer. Parece ser uma devolução legítima e confirmo isso mesmo quando troco as primeiras palavras com a pessoa. Recebo o telefone, agradeço o gesto e de modo meio desajeitado tento, sem querer ofender o gesto altruísta, recompensar a pessoa. "Nem pense nisso, é com todo o prazer que lhe devolvo!". É assim que a conversa começa a chegar ao fim. Ainda tento perceber como é que o telefone foi encontrado, ou como lhe chegou às mãos. Sem sucesso. "Não me faça perguntas, ficamos assim, um bom ano para si.". Estou ali, de telefone na mão, a cumprimentar um desconhecido, a agradecer-lhe uma vez mais e a desejar-lhe também a ele um feliz 2010. Tenho curiosidade em saber mais, como chegou até mim, que voltas deu o terminal antes de reencontrar o caminho de casa, mas nada mais sei. Respeito o pedido. Curioso, mas de forma tranquila.

Quando abandono o local e me misturo na multidão atarefada em vésperas de reveillon, dou-me por satisfeito. Afinal de contas tudo o que me resta é chegar ao meu local de trabalho, identificar com clareza o número de série do mesmo e telefonar ao seu legítimo dono e dar-lhe uma alegria. Tudo isto parece simples. É simples. Mas veremos como as coisas simples têm tendência para se complicar. Durante o trajecto, tento abreviar esse meu trabalho de identificação do dono. Mas é difícil. O terminal está praticamente limpo de informação. Não reconheço nada nem ninguém na imagem de wallpaper que ostenta. Não tem praticamente nenhum email e é surpreendente que um deles seja precisamente um email meu trocado entre dois endereços que não conheço, email esse que anuncia precisamente o desaparecimento de um iPhone.. Presumo que deva ter sido esse mesmo email que deu origem a este contacto. O meu número não consta da (magra) agenda de contactos do telefone. Ao chegar ao meu local de destino percebo que as coisas ainda vão ficar mais difíceis quando, para meu espanto, o número de série não coincide com nenhum dos anunciados como perdidos ou roubados. What now?

Fico sem saber o que fazer. Contacto o operador, ele diz-me a loja onde o telefone foi vendido. Não têm mais dados que me permitam progredir na busca. Três dias depois, quando volto momentaneamente a esta questão, verifico que o telefone foi alvo de um "wipe" de dados. Já tinha deduzido que o proprietário era subscritor do serviço MobileMe, que permite proteger os conteúdos do telefone, eliminando-os remotamente. Fico à espera que a mesma pessoa que mandou eliminar dados remotamente, tivesse tido a ideia de mandar uma mensagem de alerta pelo mesmo serviço. Os dias passam e nada.

Só me sobra esta via para conseguir encontrar o dono deste telefone: Se conhece alguém que tenha perdido ou a quem tenha sido subtraído um iPhone, queira fazer o favor de me dizer o número de série do mesmo. (É essencial que me comunique o número de série para uma identificação precisa). Pode ser o dia de sorte do respectivo dono,

22 comentários:

neca disse...

fico deveras admirado que não tenhas levado o belo do Post-it para confirmares no momento da entrega se o SN dos iphones desaparecidos coincidia com o devolvido...

Mas enfim.. és boa alma!

Pedro Aniceto disse...

Fazer até o tinha feito, o diabo do papel é que ficou em cima da secretária...

Patricia Lousinha disse...

"E desbloqueai-nos do mal..." Amen!

Pedro Aniceto disse...

E havia várias formas de não o conseguir saber de imediato: (Falta de power ou lock de acesso)

kincas disse...

Basta tirar o SIM-TRAY que nele está escrito o IMEI e o SN.

Pedro Aniceto disse...

Ai sim? E se não coincidirem oh artista? ;)

kincas disse...

Quais são as probabilidades disso?
Até a Apple invalida garantias se o IMEI e SN gravado no SIMTRAY não for o do equipamento.

Pedro Aniceto disse...

O tray é a spare part mais vendida...

KIT0 disse...

Muito esquisito isso! Ou será que o senhor que o deu, é leitor deste blog e contactou consigo através daquele post de um iPhone também perdido?

Pedro Aniceto disse...

Também pus essa hipótese.

kincas disse...

"O tray é a spare part mais vendida.."
É novidade.
É que "oficialmente" não existem spares para o iPhone.
Ou é coberto ela garantia ou leva um "novo" pelo (lindo) preço de 200 e tal aerios.

oculos disse...

É um 3GS? Então é meu!!! Quer dizer, poderá ser meu, se ocorrer a hipótese de "res derelicta" e usucapião... ehheheeheh

Tipografia Freitas disse...

Eu não sou o dono dele... mas posso passar a ser tutor para que o pobre coitado não ande desamparado, nem te dê mais trabalho, pois tens certamente mais que fazer do que andar atrás de alguém que não quer saber do iPhone que perdeu.
Assim fazes alguém feliz...

Frederico Lucas disse...

Tenho ideia de ter perdido um iPhone mas já nem me recordo da cor. Podes enviar-me esse para eu ver se é meu?
Tens a minha morada?

Frederico Lucas disse...

...E não me perguntes onde o comprei porque ACHO que me foi oferecido.

(se não foi, poderia vir a ser!)

BlueAngel aka LN disse...

Eu acho que perdi um iphone que nunca tive. Logo deve ser meu! :-) E eu mereço! :-P

Obsessed Surfer disse...

o que perdi era

8682910DY7K


Abraço

o meu actual nº de telemovel é 913317522

jojobach disse...

Ó Soul Slider, nunca se deve deixar um SN num sítio público. Um e-mail para o Aniceto é sempre a melhor opção.

João Carvalho disse...

Eu não posso ter um iPhone... É um problema que eu tenho e não tem tratamento. Se o pobre iPhone está orfão ficaria muito satisfeito em adoptá-lo. Posso proporcionar-lhe um lar cheio de wifi, enche-lo de música e filmes, levá-lo a passear todos os dias. Enfim, viveríamos felizes para sempre.

eduardo disse...

o Pai Natal bem me disse que, numa guinada inesperada do trenó - culpa do Rodolfo - tinha deixado cair o meu presente....

AR disse...

Pedro,
Por acaso, mas por mero acaso do destino, é preto de 8Gig e 3G?

Se for ainda poderia ser o meu, que perdi à uns bons 6 ou 7 meses atrás!

Ob

AR

Miguel disse...

olha aqui uma bela dica