06 janeiro 2010

Fazer-se de Lucas

Quando ontem de manhã olhei para a agenda e percebi que me estava traçado o destino uma refeição a sul, pedi via Twitter algumas recomendações, dado que fazia tempo que não almoçava na região de Vidigueira/Cuba. É verdade que desde Março passado que não visitava Cuba, e a paisagem gastronómica, que está sempre em mutação, poderia surpeender-me e ainda bem que assim pensei. Fiquei positivamente impressionado com a quantidade de réplicas ao meu pedido de pistas para um almoço legitimamente alentejano. Baseados no meu pedido, dúzias de nomes de estabelecimentos foram surgindo na minha timeline e não foi difícil eleger um, principalmente pela localização geográfica e encómios que lhe foram dirigidos. Mas nas minhas agendas há quase sempre lugar ao imprevisto e o dia de hoje não seria excepção. Sucessivos atrasos da logística, um tempo miserável e um carro asmático pesadamente carregado ditaram que os horários fossem sendo torpedeados e que a hora de almoço se aproximasse perigosamente no meio da batalha naval. Isso tudo somado ao facto das instalações do cliente encerrarem por completo durante uma hora, mais a minha posição geográfica na hora da angústia do guarda-redes no momento do penalty fez com que o Grande Arquitecto da Hotelaria me segredasse ao reptiliano "E se fosses mas era almoçar?". Estava em Cuba e foi uma questão de rememorar a lista das referências para esta localidade. Tinha eleito duas para esta hipótese: A Adega da lua e o Lucas. Nesta altura, até o mais desatento dos leitores já percebeu que foi impossível visitar a Adega da Lua (há uma certa fatalidade cósmica que me impele a tentar visitar locais encerrados, principalmente se se tratar de casas de banho ou restaurantes recomendados) e rapidamente se fez a agulha (com um enorme susto automobilístico de permeio). A segunda escolha. O Lucas, veio a revelar-se um enorme erro. Não sendo eu um crítico gastronómico (a prova disso mesmo é que só se usará nesta prosa por uma única vez a palavra "amesendação" e fora do respectivo contexto, ouso colocar-me algumas questões:

- Porque diabo se colocam como empregados de mesa pessoas que têm dificuldades óbvias em falar e entender português?
- Porque é que um restaurante tão amplamente recomendado como de comeres típicos alentejanos, tem uma lista onde NÃO figura um único?
- Porque é que à pergunta "De onde é o vinho da casa?" se tem de reunir um concílio de dois patrões e uma empregada que não falando português tem por missão dizer ao cliente "É de uma zona de vinhos..."?
- Porque é que a oferta do Restaurante Lucas em matéria de sobremesas é tão marcadamente lisboeta? (Mousse de chocolate, doce de não sei quê com natas e mais uma trampa (termo da responsabilidade do escriba) pré-fabricada à qual não fixei o nome)

Depois de pedida a presença de alguém com quem conseguisse o mínimo diálogo, a dona da casa informou-me que o Lucas possui nova gerência desde o primeiro dia do ano e foi nessa altura possível questionar sobre comida alentejana. É sempre bom conversar com alguém que nos diz que existe um prato do dia alentejano (Cozido de grão) que não consta da lista e pode até ser considerado um segredo de Estado. Com a refeição já consideravelmente arruinada, acabei por saber que iremos ter listas enormes e que um dia destes hão-de vir, coisa da qual futuros viajantes poderão disfrutar. Pois que as disfrutem. Saúdinha!

Nota: Excelente pão e boas azeitonas. Mousse caseira, bem acima da média.

8 comentários:

Eduardo Franco disse...

Esta historia do Lucas.So pode ser mesmo do Lucas,George.Porque encontro alguns efeitos especiais, no minimo estranhos que te fizeram crer na aventura que tiveste aqui neste filme da planicie dourada.Falo em concreto,da Adega da Lua que nao sendo o salão de visitas do palacio de Buckingham, porque nem querem la qualquer tipo de noblesse ou aristocracia oca.Encontrava-se na hora de almoço com 23 clientes e com portas abertas a mais clientes, se fosse o caso.Quem informou na localidade,bem podia ter dito sendo o caso, acreditando no "apetite" da pessoa que com um abre-te sesamo por tras dessa porta fechada iria ter todas as iguarias da região incluindo, a famosa mousse agri-doce de favas acompanhadas de gambuzinos cozidos.
Quanto ao Lucas.Para alem de supostamente ter sido um bom apostolo, nunca o ouvi queixar-se numa ceia, seja qual fosse o prato que lhe servissem.Com a nova gerencia nao terão mudado o nome para judas?Preocupo-me se alguem mal formado,tenha cuspido pro prato..Mas acho que nao.No antigo Lucas,tinha-se boas ceias,aquela comida que era feita pelos avós que em dia de festa, fugiam a rotina alimentar, da meia sardinha para quatro pessoas e do pao com azeitonas.Que em metade deste ultimo prato, matou em tempos a fome a um Portugal, que infelizmente nao esta muito distante.E assim caro amigo, fazer-se de Lucas e armar-se aos cucos.Dois lados da mesma moeda.

Jorge disse...

"Disfrutar"?

Pedro Aniceto disse...

Sim?

Eduardo Franco disse...

De facto uma folha a4 com uma aparente impressão de má qualidade, e com lacunas de estatutos comerciais.Até pode justificar um "Quid pro quo" ja que hoje por aqui se fala por expressões idiomaticas. Isto, causado supostamente quando sao varias cabeças a pensar e nao existe comunicaçao, ou aparentemente, pesos pro tronco humano.Mau pro negocio?Acredito.Ate podiam ter sido mais que 23.Para quem vende um produto "dito regional"?Nem por isso, so se fosse verdadeiramente regional.Preocupa-me SIM realmente mais se chove ou nao.

vitor disse...

"disfrutar" ??!!

LittleHelper disse...

Face à "recomendação"; Então o pão e as azeitonas eram mesmo alentejanas!

O Gato Preto disse...

"- Porque diabo se colocam como empregados de mesa pessoas que têm dificuldades óbvias em falar e entender português?"
No tempo que tive o restaurante, a razão era porque pura e simplesmente não conseguias, não havia aqui na nossa zona nenhum português que quisesse trabalhar na restauração, em 6 anos de actividade tive 2 portugueses a trabalhar, mesmo se pedias ao centro de emprego só mandavam estrangeiros.
Hoje em dia com o desemprego como está creio que não será difícil encontrar Portugueses.

Manel do Outeiro disse...

Como nado e criado nesta região, só um pouquinho a norte do "País das Uvas" do sempre lembrado Fialho de Almeida, fiquei triste. Triste por várias razões. Pelo blogger que não pode esperimentar a sua primeira opção (também seria a minha), pela sua má experiência, pela falta de qualidade de um local que já foi um templo do bem comer (e beber), por esta falta de capacidade e brio, que nos está a atrofiar ainda mais.
Para a próxima se não puder experimentar a Adega da Lua, aconselho bem perto do Lucas a "Casa do Monte Pedral", com restaurante e Adega, onde pode fazer uma refeição tradicional... ou só com petiscos!!!
Atenção não estou a ganhar nada com a publicidade...