Lembro-me de várias coisas, da imponência da mesa em que trabalhava, lembro-me dele de colete lustroso, de óculos na ponta do nariz e tenho na memória mais profunda o cheiro a tecidos que havia naquela casa. Acho que nunca mais visitei um alfaiate depois deste hipotético Hipólito. Nunca lhes cheguei a mexer, mas em cima da imponente mesa à qual a ponta do meu nariz mal chegava, existiam dois objectos que nunca esqueci. Uma poderosíssima tesoura e um pedaço de giz, triangular. Nunca tinha visto giz triangular e aquela tesoura metia-me imenso respeito. Nunca lhe toquei mas tinha um ar bastante pesado e apesar de poucas vezes a ter visto ser utilizada na sua função, era sem dúvida A tesoura, a mais imponente tesoura que eu jamais vira, capaz de envergonhar a tesoura de costura da minha mãe, que era já bastante avantajada...
Hoje, quando me disseram "Está um alfaiate a fazer uns lenços para vocês usarem no World Failurist Congress na Exponor", todas essas memórias se avivaram. A tesoura, o giz e o cheiro intenso a tecido, tudo isso desfilou de novo. Não sei o nome do profissional. Abílio? Hipólito? Não sei o de nenhum deles (nem de um, nem de outro). Mas foi bom, por instantes, saber que alguém, está a gizar, a cortar, alinhavar e a coser algo que me traz estas memórias. E a manusear a tesoura que há-de vir a fazer os retalhos do que me lembro e deles se desprende um curioso cheiro a pano.
2 comentários:
Qual era a casa? Para ver se te ajudo com o nome...
39.735613, -8.285566
+39° 44' 8.21", -8° 17' 8.04"
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