10 julho 2006

Honorários

Antes de expirar, Salomão, o velho e sábio Rabi, chamou os seus filhos para uma última conversa familiar. Depois de testamentadas as suas últimas vontades, levantou um braço pedindo silêncio e com voz arrastada mas segura declarou "...E nunca, mas nunca deixem de pagar os honorários dos vossos advogados. Nunca!" Espantada, a assistência quis saber das razões de tão invulgar pedido e Salomão narrou a seguinte história: "Amit era um alto funcionário da corte do Rei Akbahr. Há muitos anos que Amit nutria um incontrolável desejo de chupar os voluptuosos seios da Rainha, uma vez que fosse, mas até se saciar. Algumas vezes tentou atingir o desiderato, mas sempre sem sucesso.

Um dia, Amit revelou o seu desejo a Birbal, o principal advogado do reino e pediu-lhe ajuda para esse objectivo que ameaçava levar Amit à loucura. Depois de muito pensar, Birbal prometeu estudar o assunto na condição de Amit lhe pagar mil moedas de ouro. Amit concordou no pagamento que, todavia, não foi formalizado por escrito por conveniência das partes.

Alguns dias depois, Birbal preparou um líquido que causava comichões de enlouquecer e derramou-o no soutien da Rainha enquanto esta se banhava. Conforme era suposto, a inacreditável comichão começou a produzir os seus efeitos, deixando a Rainha desesperada e o Rei deveras preocupado.

A corte consultou os melhores médicos do reino, sem qualquer sucesso, até que Birbal comunicou ao Rei que apenas uma saliva especial, se aplicada continuamente durante quatro horas, curaria o mal. Birbal, como seria de esperar, comunicou ao Rei que essa saliva apenas se encontraria na boca de Amit.

O Rei Akbahr ficou felicíssimo e mandou de imediato chamar Amit que, pelas quatro seguintes horas, saciou o seu desejo, deliciando-se com o fartíssimo peito da Rainha. Chupou, beijou, afagou, enfim, fez tudo o que sempre ansiara.

Satisfeito, encontrou-se no dia seguinte com o advogado Birbal. Com todas as suas fantasias alcançadas e a sua líbido satisfeita, Amit comunicou ao advogado que não lhe pagaria as combinadas mil moedas de ouro. Amit sabia que, naturalmente, Birbal jamais poderia contar ao Rei toda a trama.

Mas Amit subestimou o advogado. No dia seguinte, enquanto o Rei se banhava, Birbal derramou o mesmo líquido nas cuecas do Rei. O Rei mandou de imediato chamar Amit..."

12 comentários:

Unknown disse...

Olá Pedro,

O link veio por engano, mas valeu a pena!

Eheheh, gramei a estória. Ou fábula?

Abraços,

Anónimo disse...

Caro José António.
O que é uma estória?
um abraço

Anónimo disse...

VENHAM DAÍ MAIS ENGANOS.
BOA, BOA....

YUL BRYNNER (AJMG)

Lcego disse...

Os enganos por vezes funcionam como um excelente marketing, sempre a aprender com o mestre!

Pedro Aniceto disse...

Foi efectivamente um erro e não uma manobra publicitária...

Anónimo disse...

Só demorei o tempo de ir pagar uma dívida antiga a um advogado e vim logo agradecer-te o convite, ainda que involuntário, para esta lição de moral impregnada do odor das Mil e Uma Noites.
Por mim podes enganar-te as vezes que te apetecerem.

Anónimo disse...

A estória fez-me lembrar "O périplo de Baldassare" de Amin Maalouf. Mas acho que é mais uma metáfora sobre a "sorte" da França no campeonato do mundo de fútebol.

Anonimus conimbricencis

Anónimo disse...

só falta acrescentar que após isso, Amit e o Rei viveram felizes para sempre, e que o advogado esperto acabou a sua vida numa imensa loucura de comichões...

Anónimo disse...

só para esclarecer o anónimo que colocou a questão
"O que é uma estória?"
estória s.f histótia de carácter ficcional ou popular; conto; narração curta;

O português tem destas coisas ;)
Paulo A. Silva

Unknown disse...

Caro Paulo A. Silva,

Obrigado pela sua resposta.
Eu reparei agora na pergunta, que me foi dirigida directamente, e ia dar a minha resposta.
O Caro antecipou-se e muito bem.

Acrescento à sua (dicionário) definição a minha utilização do termo "estória":

Uso-o mais ou menos no mesmo sentido em que os ingleses distinguem a "story" da "history".
Uso 'estória' para distinguir um qualquer relato dos relatos da 'história-ciência'. Isto é, aplico-o a relatos de um modo geral ficcionados, sem caráter documental, como acontece com as 'estórias' que escrevo.

Já agora, se coloquei a questão de ser uma estória ou uma fábula, foi no sentido 'jocoso'. Até porque uma fábula o é por conter sempre um sentido moral. A estória publicada pelo Pedro Aniceto pode ser vista como tal, mas também pode ser vista apenas como uma anedota ou uma estória picaresca. Na verdade, coloquei a questão sem esperar que o Pedro Aniceto me respondesse.

Abraços,

Anónimo disse...

Olá a todos, tmabém vim ao engano. Perdoem-me a pergunta, e não pretendo atingir ninguém mas, estava convencido que uma fábula corresponde a um conto ficcional cujos personagens são animais.
Alguém confirma (ou desmente) isto?
Por outro lado, podem chamar-me "Bota de elástico", continuo a não conseguir encaixar a "estória". Vou continuar a chamar-lhes histórias porque defendo que o uso corrente e generalisado é que faz o léxico.
Cumprimentos a todos

Pedro Aniceto disse...

A primeira pessoa que vi usar o termo "estória" tinha já perto de setenta anos e chamava-se Carlos Pinhão que alguns reconhecerão como um grande jornalista e contador de "estórias"... E não foi há pouco tempo, já lá vão mais de 20 anos. Na altura eriçei-me todo e pensei "e logo o Pinhão"! Quando fui investigar descobri que o termo estava consagrado em diccionários de referência fazia já muito tempo, caí em mim e pensei que apenas me tinha eriçado por desconhecimento...