10 junho 2012

O afundamento do Augusto de Castilho

Lothar von Arnauld de la Perière, comandante do U-139 durante a Primeira Grande Guerra, tornou público em 1920 o seu relatório sobre o combate travado na manhã de 14 de Outubro de 1918 com o patrulha de alto mar, NRP Augusto de Castilho:

 "Era uma antiquada e mísera canhoneira, sem peças capazes de competirem com as nossas, e tinha uma guarnição por metade da do nosso navio. Eu nunca vi luta mais valente do que a sustentada por aquele velho calhambeque. Os portugueses combatiam como diabos, atirando granadas umas atrás das outras, de umas peças de brincar, enquanto nós os varríamos de popa à proa. Catorze dos quarenta homens da guarnição jaziam mortos no convés, e a maior parte dos restantes encontraram-se feridos antes que o barco se rendesse."

O NRP Augusto de Castilho, que na véspera recebera ordem de acompanhamento do vapor S.Miguel que fazia rota entre o Funchal e Ponta Delgada, assistiu ao primeiro ataque do U-139 e iniciou as manobras de defesa do S.Miguel, através do lançamento de cortinas de fumo, manobra que contudo não seria eficaz no despiste da presa. Com o U-139 à superfície, o comandante do Augusto de Castilho,  o Primeiro-Tenente Carvalho Araújo ordenaria a tentativa de abalroamento do submarino alemão, que sendo obrigado a táticas defensivas, acabou por perder o tempo de intercepção do vapor português, passando a concentrar o seu fogo de artilharia no Augusto de Castilho, provocando catorze vítimas mortais (entre as quais o comandante Carvalho Araújo) e incapacitando máquinas, leme e telegrafia. À mercê do U-139, a tripulação foi forçada ao abandono do navio, tendo recebido autorização para arrear um bote salva-vidas (que dois dias depois aportaria à ilha de Santa Maria no arquipélago dos Açores, tendo o NRP Augusto de Castilho sido afundado com um único tiro de torpedo.

É este momento singelo que hoje é possível reviver graças à recuperação de um filme dessa época, um documentário alemão de cerca de cinco minutos de duração, agora digitalizado pelos serviços da Cinemateca Nacional.

 O NRP Augusto de Castilho, é bastas vezes, descrito como caça-minas, mas a sua classificação real é de navio patrulha de alto mar. Originalmente um arrastão de pesca de bacalhau, foi requisitado ao seu proprietário para serviço militar, tendo recebido duas peças de artilharia. O NRP Augusto de Castilho travou, por três vezes, combate com navios submarinos inimigos durante a Primeira Grande Guerra, soçobrando no terceiro combate.

2 comentários:

Tuaregue disse...

Obrigado pela esta partilha, eu conhecia esta historia quando o meu pai contou-me quando era miudo

JCR disse...

O texto tem algumas imprecisões. Sabe-se que foram 6 e não 14 as vítimas mortais. Arnauld de la Perière equivocou-se. Segundo, o Augusto de Castilho não foi afundado por um torpedo, mas sim por tiros de peça (canhão) dirigidos à linha de água e cargas explosivas nele colocadas pela equipa de presa alemã enviada a bordo do Caça Minas. Foi sim lançado um torpedo mas por avaria (segundo o filme alemão) fez ricochete na água e acabou por passar sob o Augusto de Castilho tendo-se separado a ogiva (onde está a explosivo) que foi depois recuperada. Isto foi filmado sendo possível ver na versão completa do filme alemão.
José António C. Rodrigues