F. morreu atropelado numa borda de estrada enquanto mudava um pneu. Vê? Agora tudo parece menos dramático e digno de um "G'anda azar!" vindo do mais fundo do nosso ser. F. morreu e agora Zé Bouças, o cauteleiro da vila tem um problema entre dedos para resolver. E é precisamente aqui, neste exacto ponto que eu passo a fazer parte da equação.
Esta manhã, Zé Bouças interrogava o dono do café onde eu estava quase que por acidente sobre se não queria ficar com a cautela de F., jogador de fé, homem de número certo na Lotaria Nacional. Que não! Nunca! Olha que ideia a tua, agora ficar com a cautela do morto! Percebi que outros inquiridos se negavam também, um deles chegou mesmo a persignar-se que é coisa rara de se ver fora de sede própria, salvo em caso de grave sacrilégio ou susto mais arreigado na alma. A três perguntou Zé Bouças e por três vezes o renegaram e eu, sem uma palavra, apenas um gesto quase imperceptível, adjudiquei a fracção que guardei no bolso sob o olhar de censura dos presentes. Não é a primeira história que ouço de gente que sempre teve o mesmo número e que um dia deixou de jogar por uma qualquer razão e pimba!, toma lá, vai buscar, que sabemos que no caso de acontecer se torna verdadeiramente desagradável, quase tão mau como ser-se atropelado numa borda de estrada enquanto se muda um pneu.
Nesta fase estão todos os leitores a perguntar-se se me saiu a Lotaria do mito urbano. Não saiu, ou por outra, se fosse vivo, e já sabemos que não,
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