Faz tempo que olho para a problemática da iluminação de incandescência (dita "clássica") face às novidades tecnológicas em matéria de iluminação. E se até agora não decidi nunca escrever sobre este assunto é porque todos os confrontos entre a incandescência e o material clássico de iluminação (leia-se material "economizador") redundaram sempre numa espécie de fracasso no que à implementação diz respeito. Todas as tentativas que fiz de substituição da tecnologia clássica de incandescência falharam por várias razões, sendo a mais significativa, o tempo de resposta do material desde que é accionada a ligação de energia até ao momento em que a lâmpada atinge o seu máximo brilho. Também contribuiram negativamente para a satisfação total do utilizador, factores como o preço e a própria durabilidade do material testado.
Na questão da durabilidade, os materiais variam em termos qualitativos de sobremaneira. De tal modo que há anos a esta parte ganhei o hábito de inscrever no casquilho metálico do material de iluminação a data em que o mesmo entrou ao serviço. Trata-se de uma habitação com cerca de 45 pontos de iluminação (interior e exterior - nao hão-de as contas serem grandes...) de diversos formatos e tecnologias, de fluorescência (residual) a incandescência (o grosso do material), passando por halogéneo. Tornou-se a dada altura demasiado complexo acompanhar os prazos de durabilidade de cada item, pelo que essa inscrição de data passou a ser essencial para se perceber a vida média de uma lâmpada em utilização.
Com a introdução no mercado dos primeiros exemplares de lâmpadas de tecnologia LED, depressa percebi que os respectivos custos tornariam a operação de adaptação de todas as exigências da casa uma tarefa hercúlea e pesadíssima em termos de investimento, mas que, com o evoluir do mercado (e sobretudo com o fim programado da fabricação de material de incandescência - 2014 é já ali), não restaria grande alternativa senão ir adaptando o material de uma forma faseada.
Mas os preços têm baixado significativamente e não deverá tardar o dia em que esta nova tecnologia se imponha no mercado de consumo, por ora ainda rendido a tecnologias já condenadas ao desaparecimento. Esta semana coloquei em teste uma lâmpada LED Ikea, modelo Ledare (PVP Ikea 11.99€) e oferece-se-me para já tecer algumas considerações sobre esta lâmpada, a saber:
- Estas lâmpadas são concebidas com base em LED (Light Emiting Diodes, ou Diodos Emissores de Luz). Se ao leigo isto nada diz (ou a malta começa logo a pensar em tuning...), saiba o leitor, numa imagem simples que um LED é um componente composto de minúsculas camadas de compostos de carbono que, quando percorridas por corrente eléctrica, brilham. É uma explicação minimalista, mas é suficiente...
- A velocidade de resposta ao acendimento é bastante boa. Não que eu tenha uma escala de julgamento desta vertente, mas porque com esta lâmpada, não penso sequer nela depois de accionar o interruptor. O fabricante anuncia um tempo de resposta de 0,2 segundos, mas a mim basta-me que quando entro numa divisão da casa e necessito de ligar a iluminação, a lâmpada "responda" no seu brilho máximo antes mesmo de eu ter terminado a minha função nessa divisão, factor extremamente negativo noutra tecnologia, dita "economizadora". E penso que todos sabemos ao que me refiro...
- A luz e brilho destas lâmpadas são absolutamente satisfatórias. Quando as instalei, e observado o packaging, ocorreram-me algumas questões (que foram atempadamente respondidas pela IKEA). A informação do packaging da IKEA LED é vasta, tão vasta que pode confundir o comprador. Para além de indicações óbvias como o tipo de tecnologia, existem na embalagem indicações sobre o tipo de casquilho (ver mais abaixo desenvolvimento sobre o tema), luminosidade da lâmpada (em lúmens, coisa que deixará muito comprador não familiarizado com esta escala, à beira da loucura...), consumo (não será de espantar que esta lâmpada anuncie um consumo de 8,1 Watt, mais uma enorme diferença face ao que estamos habituados com lâmpadas de incandescência), CRI (e aposto o meu rim direito que noventa e nove por cento da massa consumidora de lâmpadas nem sonha o que seja o CRI...). O CRI
é um valor referencial para "julgar" o quão precisa é a renderização de uma cor reflectida quando iluminada por uma fonte de luz. (Renderização é uma palavra que não existe, mas é a coisinha mais parecida que arranjo para expressar o termo original). Imagine o leitor que iluminamos um objecto vermelho com uma fonte de luz "segura" ou "padrão". A cor devolvida pelo objecto poderá ser medida e a mesma operação poderá ser feita com a segunda fonte de luz. O desvio face ao padrão é calculado numa escala de 0 a 100 (esta lâmpada IKEA anuncia um CRI de 85) e esse valor serve de indicação à fiabilidade da devolução da reflexão de cor. Quanto mais alto for o CRI mais fiável é a luz enquanto base de distinção de cores. Fontes luminosas com índice CRI de 85 ou superiores, são consideradas boas. É importante notar que existe neste packaging uma outra informação que poderá confundir/fazer interrogar o consumidor: A temperatura de cor (que não deve ser confundida com o CRI da lâmpada) vem nesta embalagem (e em todas as outras, suponho), expressa na escala de Kelvin. As temperaturas de cor são importantes porque são, basicamente, a sua tonalidade. Lâmpadas com uma temperatura de cor acima de 5000 produzem uma luz clara e precisa (boa para iluminar tarefas que exijam concentração), enquanto que, descendo na escala de Kelvin se produzem tons que induzem ao relax.
A informação do packaging é, como disse, vasta. Indicações como tempo de vida estimado da lâmpada (vinte mil horas), tempo de resposta ao máximo de brilho, incompatibilidades, número de acendimentos expectáveis antes de falha, dimensões e tensões admissíveis estão também presentes.
- A tecnologia LED não é compatível com reóstatos variadores de tensão pelo que o uso destas lâmpadas em sistemas deste tipo (com regulador de intensidade) não é possível. Sim, é possível usar a lâmpada, não é possível regular-lhe a intensidade como nos modelos "clássicos" ou "economizadores".
A lâmpada LED não aquece. Ponto. Não havendo incandescência nem filamento, não se gera (desperdiça) o calor operado pela resistência. Este facto explica cabalmente o baixo consumo anunciado.
Os vários tipos de casquilho de rosca disponíveis na maioria dos mercados (sim, existem mercados não desprezíveis de casquilhos não roscados, ditos de baioneta, que alguns dos leitores se recordarão ao mudar as lâmpadas de mínimos de alguns carros mais antigos), e existem desde a invenção da própria lâmpada. Conhecidos como "As roscas de Edison", são designadas pela letra E (de Edison) seguida de dois números. Uma lâmpada que possua a referência E27 (como é o caso das lâmpadas em apreço) estará equipada com uma rosca de 27 milímetros. (É espantoso que esta nomenclatura resista desde 1909 numa patente Mazda.)
Claro que algum tempo terá de passar até que me possa pronunciar sobre poupanças efectivas (e comprovadas) nos consumos. Até porque ainda só parte do parque de iluminação foi substituído. Mas a isso voltarei dentro de alguns meses.
Como diz, com graça, a IKEA: "Muito obrigado Senhor Edison, a partir de agora fazemos nós"
16 novembro 2012
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5 comentários:
Os franceses usam casquilhos de baioneta mas não os acho particularmente desprezíveis por isso. Já as quantidades de lâmpadas vendidas em França não podem ser desprezadas pelos fabricantes.
É verdade que não aquece na lampada, mas na parte do casquilho aquece pra caraças que até custa acreditar q só gasta 8w para aquecer tanto. Comprei umas identicas a estas no Leroy
Nem de propósito. Ainda a semana passada tive de comprar lâmpadas e deparei-me com a total ausência das tradicionais de filamento.
Acabei por comprar umas de marca branca (neste caso do Real, que dizem ser do grupo Wal-Mart) e são de halogénio. Têm exactamente o mesmo formato das tradicionais com o bolbo de vidro e tudo.
Características:
53W Energia classe C (equivalente a 70W)
840lm (não sei quanto será em candelas)
2800ºK "klassisch weiß"
2000 horas
1.000.000 de acendimentos
Filtro UV
0.0 segundos de tempo de arranque
Funciona com reóstatos
Hg free
€1.99
Duas notas extra:
1. Os LEDs são feitos de silício e não carbono, e a cor é dada por dopantes. No caso dos LEDs brancos usa-se fósforo.
2. Há um grande debate sobre o "desperdício" térmico das lâmpadas incadescentes, principalmente em climas mais fresquinhos como o alemão. O que se poupa em aquecedor por ter umas lâmpadas incadescentes ligadas é imenso!
Casquilho baioneta?
Tipo as lâmpadas de extensões de natal? (Nem todos têm carros,eheeh)
Qd souber e SE souber que funciona, faça outro post. Mas deve funcionar, as empresas estudam essas coisas e de facto o LED traz vantagens. Não me custa nada entender o sistema LED.
Não uso incandescentes para lá de 20 anos. Mas que no inverno umas são mais quentinhas e no verão nem se pode com o calor, lá isso...
Agora apetece-me ir às compras de lâmpadas :)
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