11 março 2013

Memórias da Revolução (O meu 11 de Março)

Hoje é 11 de Março, data sobre a qual já muito se escreveu e que blogs políticos analisarão pela milésima vez com os mesmos resultados de uma Comissão de Inquérito ao acidente aéreo de Camarate. Eu tinha 11 anos em 1975 e deste dia recordo-me da excitação de poder estar deitado, qual atirador especial, sobre um telhado de um prédio de quatro andares na Camilo Castelo Branco, munido de uns (hoje) ridículos binóculos de ópera a ver aviões "de guerra" a sobrevoar a cidade. Esta excitação não durou muito, foi aliás interrompida por um agente da PSP que prestava serviço no prédio fronteiro, que foi lesto a avisar os meus pais de que era extremamente perigosa a minha posição naquele telhado, pois temia-se que pudessem os aviões vir a abrir fogo. Acabou-se o uso do raio dos binóculos verdes e acabou-se a minha encenação de guerra com rajadas verbais a cada passagem dos já vetustos FIAT. Não se faz! Alguns meses depois do 11 de Março, um outro episódio de cariz político haveria de voltar a agitar lá em casa os ventos do período revolucionário. A minha irmã mais nova que era integrante de um grupo coral que animava as missas dominicais na RTP, decidiu em determinado dia envergar uma das suas camisolas de lã. A camisola não tinha nada de verdadeiramente preocupante (ela tinha uns nove anos, se tanto), era de lã branca e tinha desenhado com malha de cor diferente, no peito, um generoso e maiúsculo "ELA". Tal qual. Um ELA. Colocada na segunda fila do Grupo Coral, com o país inteiro a receber pela TV as habilidades vocais do Grupo Coral, cedo começaram a chover nos Estúdios do Lumiar uma quantidade de telefonemas irados provenientes de telespectadores furiosos com a escandalosa campanha política a favor do ELP (a organização de direita encabeçada supostamente pelo Marechal Spínola). Ora, veio depois a perceber-se que em alguns planos do coro, a cabeça da criatura que estava na fila da frente, "cortava" uma perna do A e dava assim ao país (mais) uma hipótese de se enfurecer. Parece que teve de despir a camisola, dizem as lendas...

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