06 julho 2006

Política Agrícola (In)comum

Senhor Comissário Europeu da Agricultura:
O meu amigo Robert, que vive na Bretanha, recebeu um cheque de 100.000 EUR da EU para não criar porcos este ano. Por essa razão eu estou a pensar entrar no programa de não-criação de porcos no próximo ano. O que eu gostaria de saber era qual é a melhor quinta possível para não criar porcos e também qual a melhor raça a não criar. Gostaria de não-criar Javalis, mas se eles não forem uma boa raça para não-criar, fico igualmente satisfeito se puder não-criar uns Landrace ou uns Large White. O trabalho pior neste programa parece-me ser manter um inventário preciso do número de porcos que não criámos. O meu amigo Robert está muito entusiasmado quanto ao futuro do seu negócio. Criou porcos durante mais de 20 anos e o máximo que tinha conseguido ganhar foram uns 35.000 EUR em 1978... até este ano, que recebeu o tal cheque de 100.000 EUR para a não-criação de porcos. Se eu posso receber um cheque de 100.000 EUR para não-criar 50 porcos, então receberei 200.000 EUR por não-criar 100 porcos, certo?

Proponho-me começar por baixo para depois chegar a não-criar uns 5000 porcos, o que significa que receberei um cheque de 10.000.000 EUR para poder comprar um iate e para outras necessidades urgentes. Mas há outra coisa: os 5000 porcos que eu não criarei deixarão de comer os 100.000 sacos de milho que lhe estão destinados. Entendo, portanto, que irão pagar aos agricultores para não produzir esse milho. Isto é: receberei alguma coisa para não-produzir 100.000 sacos de milho que não alimentarão os 5000 porcos que não-criarei?

Pretendia começar o mais cedo possível, porque parece que esta altura do ano é a mais propícia à não-criação de porcos.

Com os melhores cumprimentos,
(Assinatura ilegível)

9 comentários:

Anónimo disse...

Tenho vindo a acompanhar os artigos do seu blog e este não poderia deixar de comentar.

Parece que as políticas para a não produção são mesmo mais rentáveis que as políticas de produção.

Tenho conhecimento directo de situações de financiamentos para a não produção de Girassol, pelo que não me espantaria esta situação da não-criação de porcos.

É lamentável, mas quando o nosso trigo é exportado a um preço e importado novamente mais caro já nada me espanta!

Pedro Aniceto disse...

Oh Paulo, muito mas muito obrigado. É que plantei há dois meses uns doze girassóis no jardim e vou já candidatar-me a um subsídio!

Pedro Aniceto disse...

Só conheço de perto um produto que entra ba categoria "Então cá não há moagens?", trata-se da Alfarroba da qual somos o primeiro produtor mundial. (A Alfarroba é o ingrediente número um da massa de gelado). Acontece que a nossa alfarroba é exportada na sua quase totalidade pata ser torrada e moída em Itália, para depois a voltarmos a comprar...

Anónimo disse...

Ó Pedro, alguém anda a receber um subsidio para a não-moagem da alfarroba...

Pedro Aniceto disse...

A alfarroba é, à semelhança da cortiça, um produto "premium" a tal ponto que agora a roubam já armazenada e ensacada que apanhar aquilo dá um trabalho do caraças!

Anónimo disse...

Tenho acompanhado o seu blog desde sempre e hoje aqui fica um comentário , pois a matéria deste post é irresistivel: vivi muitos anos em Beja e conheço bastante bem o distrito , assim como a agricultura que por lá se pratica.
Há uns ha uns dezoito anos atras , começou-se a cultivar timidamente o girassol.esta cultura foi ganhando adeptos mas, a dada altura comecei a reparar que os girassóis deixaram de estar plantados de forma organizada e compacta(perdoe a linguagem mas não sou agrónoma)para começarem a parecer uns espetos erectos atirados ao acaso .Na brincadeira diziamos , ao passar: olha um campo de girassídios! Eram , sem sombra de dúvida, os girassóis para o subsídio.
O comentario de Paulo A. Silva também nos remete para um outro grave problema: o do dumping económico. Este arrasta consigo, invariavelmente, o dumping social e temos o caldo todo entornado.

Este fenómeno já antes de 1986 se verificava em Portugal com vários produtos, nomeadamente com o chá dos Açores:Os ingleses compravam-no por tuta e meia, levavam-no para Inglaterra onde o empacotavam e lá voltava ele pomposamente baptizado com um nome "estrangeiro" que lhe dava outro status e quem sabe , outro flavour.

Já que estou com a mão na massa (agricultura)penso que há um outro enorme problema aqui no nosso país: as flores.
O 19ºprodutor de flores a nivel mundial é o Brasil (ou a China), o 18º, Portugal e o 17º, a China (ou o Brasil).digamos que estamos entalados entre dois países enormes em termos de área.Isto tem alguma lógica?Para mais se pensarmos que a produção de flores se concentra sobretudo ao longo do vale do Tejo, com maior incidência no distrito de Santarém e Setubal(Alcochete e Montijo), parece-me que os exfluxos desta produção altamente contaminadora dos solos e das águas devem estar a dar uma saúde imensa às àguas que consumimos(recordemos que as flores atraiem os insectos que têem que ser eliminados para que cresçam dentro dos padrões e também que são utilizados corantes químicos altamente poluentes).

Quanto aos porcos ...por cá criam-se e poluem-se os rios e ribeiras com os seus excrementos.Já imaginaram o que seria se acontecesse o mesmo aos fleuves de la France? então não compensa pagar para não criar? claro que sim! Esta é apenas uma das razões, claro que há outras e até mais importantes para a não criação dos suínos por terras da PAC.Sim, porque a PAC é francesa.

Volto a dizer que não sou de agronomia nem nada que se lhe pareça, por isso e caso alguém tenha paciência para ler este comentário e nele encontrar incorrecções, agradeço que mas apontem.

Anónimo disse...

Cara Isabel, sou do concelho e distrito de Santarém (teoricamente sou mesmo da Cidade de Santarém) embora agora passe cá muito pouco tempo.

Dos 19 anos que aqui vivi flores poucas vi.
Deveria pois o Tejo acompanhar o crescimento de bonitas plantas, mas até esse já quase não leva água nesta zona.

Os jardins agora só acolhem as "flores" da mais velha profissão do mundo, e estas poucos as colhem pela raíz para colocar num vazinho em casa.

Quanto à agicultura ou à pecuária é como tudo em portugal e arredores: subsídios com fartura que compramos já feito...

Há vinte anos (e oiço isto de pessoas que o viveram) todo o produto natural (vulgo bosta) servia de fertelizante para a terra que alimentava o povo. Hoje acredito que o escremento dos animais não tenha as mesmas propriedades mas que podemos fazer!? VIVER!

Paulo A. Silva

Anónimo disse...

Olá Paulo,
A Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais
está sediada em Santarém
(Tel./Fax.: 243 300 346
e-mail: appppfn@clix.pt ).Claro que ha produção de flores de corte noutras zonas do país , como sejam Beira Litoral e Algarve.
Vou enviar-lhes um mail para que, na esperança que me respondam, possamos saber com maior exactidão onde ha maior concentração de produção de flores.Se me rsponderem , informarei aqui a não ser que o Pedro se oponha.

Antigamente, como muito bem diz, a agricultura recorria em exclusivo ao estrume para fertilizar as terras.Claro que os rácios de produtividade eram fracos:terras pobres, na sua maioria, cansadas de produzir ano após ano cereais , recurso ao pousio tal como se fazia na idade média...pois bem , rapidamente se aderiu aos fertilizantes artificiais que, se por um lado fizeram aumentar a produção , por outro contaminam terras e ribeiras, assim como os lençóis freáticos.
Há uns anos atrás (algumas décadas já) surguiu a ideia da agricultura biológica, estudaram-se diversas formas de compotagem natural e os primeiros resultados com indices de produtividade aceitáveis já começam a surgir em alguns locais do mundo.Mercado para os produtos provenientes da agricultura biológica , esse, está garantido.Há uns anos atrás tomei conhecimento de um projecto muito interessante :"emissão Zero"/(Zero Emissions Research & Initiatives -ZERI) cujo mentor é Gunter Pauli.Sobre esta matéria há alguma informação com qualidade na internet, bastando para isso pesquisar com as palavras-chave"Gunter Pauli", "ZERI", por exemplo.É um tema fascinante pela sua emergência e urgência, parece-me.

Pedro Aniceto disse...

Também fiquei surpreendido com o ranking na lista dos produtores de flores... Disponha da caixa para continuar este assunto.